Pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) analisaram os reflexos globais da redução nas taxas de poluição durante a pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19. A análise da professora Adriana Wilken, do Departamento de Ciência e Tecnologia Ambiental (DCTA) da instituição, explica o fenômeno com efeitos positivos à saúde e ao meio ambiente em todo o mundo em período de isolamento social.
“Menos combustíveis fósseis estão sendo queimados nos fornos das indústrias e nos tanques de combustão dos veículos, daí a redução dos poluentes gerados nesses processos emitidos para a atmosfera”, introduziu a pesquisadora.
O estudo do Cefet é amparado pela pesquisa recente de Marshall Burke, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. O cientista analisou a relação entre o ar mais limpo e a redução de mortes prematuras na China durante a fase mais crítica do coronavírus. De acordo com o estudo, cerca de 50 mil vidas podem ter sido salvas com a paralisação de fábricas e diminuição drástica do trânsito no país asiático.
Adriana Wilken aponta que diversas substâncias são responsáveis pelo agravamento de problemas de saúde e de danos ambientais. “As indústrias caracterizam-se, predominantemente, como emissoras de material particulado, monóxido de carbono (CO) e dióxido de enxofre (SO2). Os veículos automotores, principalmente os movidos à gasolina, emitem o dióxido de nitrogênio (NO2), o monóxido de carbono (CO) e os hidrocarbonetos (HC). Esses poluentes, de uma forma geral, podem causar doenças em pessoas expostas a eles, principalmente doenças respiratórias. Dependendo do tempo de exposição e condições meteorológicas desfavoráveis, podem até mesmo causar mortes”, explicou.
A emissão do dióxido de carbono (CO2), resultado de qualquer processo de combustão, agrava o efeito estufa, aumentando a temperatura da terra. Consequentemente, surgem problemas como aumento do nível do mar, desertificação de áreas férteis e migração de espécies. No pico da pandemia na China, entre o final de janeiro e meados de fevereiro, a emissão desse poluente caiu 25% em comparação ao mesmo período de 2019. Os dados são do Centro de Pesquisa sobre Energia e Limpeza do Ar, da Finlândia.
No planeta, ocorrem, anualmente, 4,2 milhões de mortes prematuras atribuídas à poluição ambiental, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As principais causas dos óbitos são por doenças cerebrovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica, infecção respiratória, além de câncer de pulmão, traqueia e brônquios. No Brasil, em 2018, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações relacionadas a esses problemas superou R$ 1,3 bilhão.
Medidas alternativas
O professor Arnaldo Freitas, do DCTA do Cefet-MG, acredita que não era necessária uma crise para reduzir a poluição mundial. ”Alternativas já poderiam ter sido utilizadas. O uso de tecnologias sustentáveis empregadas no sistema modal, na matriz energética, na reciclagem de materiais, na gestão adequada de resíduos, no projeto de motores automotivos mais eficientes, na gestão pública voltada ao desenvolvimento sustentável, no planejamento ambiental de cidades, na elaboração de políticas públicas voltadas para a gestão socioeconômica e ambiental, pela adoção de instrumentos e incentivos econômicos de mecanismos ambientais, entre outros”, exemplificou.
“O risco é a qualidade do ar ter uma súbita piora, pois os investimentos para voltar às atividades de uma forma geral, que baseiam-se na queima de petróleo e derivados, aumentariam fortemente a emissão de todos os poluentes citados, incluindo aqueles agravadores do efeito estufa, com consequências globais”, acrescentou Wilken.
Fonte: Diário de Pernambuco