A eleição municipal deste ano será diferente para os paulistanos. Antes com a presença certa e histórica de um representante do PSDB, desta vez a disputa tem tudo para ser entre um prefeito pouco conhecido, Ricardo Nunes (MDB), e dois jovens deputados federais, Guilherme Boulos (PSol-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP). As negociações entre as legendas apontam que os três nomes devem aglutinar os principais partidos na corrida pelo comando da maior cidade do país.
O PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta, com a volta da ex-prefeita Marta Suplicy à legenda, em ter o nome dela como vice de Boulos. Ainda muito popular nas periferias paulistanas, a ex-senadora deve colaborar com a candidatura do PSol — que tem liderado as pesquisas de opinião.
Mesmo com o potencial da chapa PSol-PT, o “fogo amigo” tem pipocado nas duas legendas. Luiza Erundina, companheira de chapa de Boulos em 2020, criticou a aproximação de Marta, a quem já chamou de “traidora”. Entre os petistas, o deputado estadual Eduardo Suplicy — ex-marido de Marta — chegou a pedir a realização de prévias para a escolha do nome do vice, questão rapidamente contornada pela direção nacional da legenda e por Lula.
O presidente, aliás, vem dando demonstrações de que pode ter uma agenda mais frequente na capital paulista. Hoje, no aniversário da cidade, estará presente, mas não deve participar das comemorações da data, encabeçadas por Nunes e pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Sem encontros políticos na agenda oficial, Lula e Fernando Haddad devem comparecer a uma cerimônia dos 90 anos da Universidade de São Paulo (USP) — da qual o ministro da Fazenda é professor licenciado.
A disputa em São Paulo terá forte nacionalização, pois se Boulos contará com o apoio de Lula, Nunes contará com o apoio de Tarcísio e, provavelmente, do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com a caneta e a chave do cofre, tentará a reeleição para o cargo que herdou com a morte de Bruno Covas (PSDB). Ele vem costurando apoios no campo conservador e flertando com o bolsonarismo.
Apostando em Tarcísio como principal cabo eleitoral, Nunes tem participado de um roteiro de inaugurações, tanto de obras estaduais quanto municipais. Na segunda-feira, em um evento de entrega de moradias populares, o governador afirmou que o prefeito “é a melhor opção para a cidade”.
Os dois mimetizam o antipetismo na capital paulista, apesar de Bolsonaro ainda não ter declarado apoio a Nunes. O ex-presidente é considerado peça fundamental na costura do que Tarcísio de Freitas chama de “frente ampla” de apoio a Nunes.
O PSB desembarca, hoje, em peso, na capital paulista, que comemora 470 anos de fundação. A data foi a escolhida por Tabata para apresentar sua pré-candidatura. A parlamentar escolheu a própria casa em que cresceu — e onde mora a mãe dela até hoje —, na Vila Missionária (zona sul), para fazer a festa de lançamento, que contará com a presença do ministro do Empreendedorismo, Márcio França, e do apresentador José Luiz Datena, cotado para ser vice na chapa. O vice-presidente Geraldo Alckmin fará uma saudação à pré-candidata por vídeo.
A entrada de Tabata na disputa fará com que Alckmin e Lula subam em palanques distintos. Diferentes também serão as estratégias dos seus respectivos candidatos. Alckmin, em entrevista ao portal UOL, ontem, disse que apoios como o de Lula da Silva ou o de Bolsonaro, “ajudam, mas não são decisivos”, minimizando a possibilidade de a eleição paulistana reeditar a polarização entre os dois eleitorados em torno dos nomes de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes. Ele aposta que Tabata tem potencial para quebrar essa polarização.
A divisão do eleitorado não interessa aos articuladores da campanha da deputada, que espera ser uma espécie de terceira via nas urnas. O temor é que, na reta final, ela acabe escanteada, tanto pelo eleitor antipetista quanto pelo antibolsonarista, que tenderiam a migrar para as candidaturas de Nunes ou de Boulos, respectivamente.
Outro problema para o PSB é a falta de um arco de alianças que amplie o potencial eleitoral de Tabata. Com pouco espaço de manobra para montar uma base mais robusta, o PSB tenta evitar, pelo menos, que os tucanos voem para o lado de Nunes. Apesar de Datena ser um dos mais cotados para vice na chapa, a própria pré-candidata vem conversando, desde o ano passado, com lideranças tucanas sobre a possibilidade de aliança com o PSDB. As conversas se dão, principalmente, com políticos ligados a Alckmin, que foi governador do estado pelo partido.
A proposta de coligação com os tucanos foi feita pela própria Tabata, em novembro de 2023, ao presidente do PSDB municipal, Orlando Faria. Na época, não se falou na candidatura de vice-prefeito, mas segue em aberto. Datena, que deixou o PDT para se filiar ao PSB, continua sendo o sonho de consumo dos socialistas, mas poucos acreditam que ele levará a ideia adiante. O apresentador se anunciou pré-candidato outras vezes a diversos cargos, mas nunca levou adiante.
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