and posted in Sem categoria

A educadora Fátima Sousa disse às entrevistadoras do Podcast do Correio que a universidade da capital federal necessita de várias renovações. Ela forma a chapa 99 — “A UnB que queremos”, com o professor Paulo Celso, da Faculdade de Tecnologia (FT), candidato a vice-reitor. Às jornalistas Adriana Bernardes e Mariana Niederauer, a postulante ao cargo máximo da instituição falou dos desafios e das propostas que terá pelos próximos quatro anos, caso seja eleita.

“A UnB merece ter alternância de poder. Faz bem à democracia, às instituições. Não é uma crítica a ninguém, mas é necessário que a gente se renove”, defende Fátima, ao se referir à gestão de Márcia Abraão, que deixa o cargo após oito anos. O episódio completo pode ser conferido nos perfis oficiais do Correio nas redes sociais, no canal do veículo no YouTube.

Como está a campanha?

Essa campanha está sendo muito esperançosa. Estamos comemorando uma democracia interna, na UnB, por ter três mulheres colocando os seus nomes em exposição, e acho que isso é um bom exercício da pedagogia: a disposição das mulheres em se colocarem como futuras reitoras. Para mim e o professor Paulo Celso a expectativa é que seremos os vencedores.

Quais são as principais propostas que vocês trazem?

Nós somos uma espécie de porta-voz de uma consulta pública que fizemos à comunidade acadêmica, com a participação dos três segmentos (discentes, docentes e técnicos-administrativos). Fizemos duas perguntas. Primeiro, “qual é a UnB que temos?”, para fazermos um diagnóstico situacional. Demos sigilo, como boas pesquisadoras que somos, e, em seguida, “qual é a UnB que queremos?”, para que nós, a partir do diagnóstico, apresentarmos uma série de sugestões. Foram 280 respostas, constituímos 28 grupos de trabalho (GT) e a síntese da nossa carta compromisso foi organizada em 10 grandes eixos. O primeiro é “As pessoas em primeiro lugar”, porque entendemos que, se a população estiver conduzindo os destinos da UnB, nós seremos eternamente devedores. Segundo, “Uma universidade promotora de saúde”. Fui diretora da Faculdade de Ciências da Saúde e ganhamos um prêmio da OMS por ser uma universidade promotora de saúde. Queremos expandir isso para o conjunto da nossa universidade. Terceiro é a “Gestão acadêmica e a ciência cidadã”, por compreendemos que precisamos redesenhar o modelo de gestão: mais célere e próxima da população; e uma ciência cidadã, onde as pessoas nos vejam, nos reconheçam e deem legitimidade ao que estamos fazendo na universidade. Quarto eixo é “Gestão administrativa e governança”. O quinto, “Gestão da ciência, tecnologia e inovação”, porque estamos vivendo uma revolução tecnológica. A UnB não pode se furtar a viver esse momento e esses desafios contemporâneos. O sexto eixo é “Gestão e arte e cultura na universidade”. A nossa universidade sempre foi muito efervescente, alegre, para cima e, infelizmente, estamos vivendo um momento, em parte por causa da pandemia, em que as pessoas se distanciaram. A gente precisa trazer esse movimento de volta, essa alegria e participação mais efetiva de toda a comunidade. Sétimo eixo é “Gestão da informação, comunicação e acesso ao conhecimento”, porque temos duas compressões aqui: precisamos massificar a informação, fazer uma comunicação mais assertiva, para que a gente possa tomar as decisões de igual maneira assertiva, e o acesso ao conhecimento de tudo o que produzimos dentro da nossa casa, para que a sociedade tenha acesso. O oitavo eixo é “Transparência e orçamento participativo”. Eu tive a felicidade de participar do governo da deputada Luiza Erundina em São Paulo, depois da Martha Suplicy, e aprendi muito bem sobre orçamento participativo. É demonstrar para a comunidade quais os recursos que temos, como eles são distribuídos e, mais do que isso: quais prioridades nós temos. O nono é “Infraestrutura e sustentabilidade”. O meu vice é um ambientalista. O professor Paulo vem da FT, e foi uma das pessoas que fechou o lixão (da Estrutural), por isso desse encontro saúde e meio ambiente. O décimo é “Memória e patrimônio institucional”.

Como foi o diálogo para construir essas propostas?

Abrimos a consulta pública e as pessoas, livremente, dos campi onde estavam, respondiam ao questionário. Temos um banco (de dados) robusto que esperamos não seja somente para o debate na universidade, mas uma luz à nossa gestão. Constituímos 28 GTs, cada um com moderador e relator, e fizemos a síntese. É um banco riquíssimo, a gente teve que fazer, de fato, uma síntese, não só um diagnóstico, para a (chapa) “UnB que queremos”. Queremos fazer, assim que assumirmos, um grande congresso interno, onde a gente escute todos. Nós precisamos projetar a UnB para o seu encontro com o seu centenário. Precisamos ter projetos mais sustentáveis e robustos, a curto, médio e longo prazo.

A eleição é paritária entre técnicos, alunos e professores. Como tem sido essa articulação?

Em todas as unidades, nós já temos um convívio, seja quando fomos diretores, seja quando coordenei o núcleo de estudos de saúde pública da UnB, seja quando estruturei os programas de pós-graduação de saúde coletiva. Então, essa convivência sempre foi muito amistosa. Eu sou filha da democracia, então, o diálogo e a convivência têm sido muito respeitosos. Os próprios debates entre nós, as candidatas, têm sido mais do que respeitosos: estamos projetando a UnB. Eu sou uma pessoa que não olha para trás, mas acho que o passado tem que ser referencial para não repetir as coisas ruins. As boas a gente não precisa apenas ampliar, mas sustentar para que a universidade tenha orgulho do que foi feito. Eu olho para o futuro. O DCE tem sido muito respeitoso conosco, todos os diretores das unidades têm nos recebido, todos os coordenadores de programas de graduação e pós-graduação de igual maneira.

O Censo de Educação Superior de 2022 revelou que houve 4,7 milhões de novos discentes e apenas 1,3 milhão de formandos. Como faz para reduzir essa discrepância?

Esse problema da evasão não é só da UnB. Isso é um problema crônico. Temos que pensar na democratização do acesso. A UnB tem várias modalidades: o vestibular tradicional, o Enem e PAS e, agora, estamos trazendo pessoas com 60 anos ou mais. Como um problema complexo, não se resolve com uma equação muito simples. Na nossa carta compromisso, temos uma série de iniciativas. Primeiro, ver de onde nossos alunos estão vindo, fazer um diagnóstico do perfil deles. Segundo, instituir a formação dos próprios professores para que possa haver uma intinerância formativa onde o aluno se sinta pertencente. Terceiro, uma política de acolhimento desses estudantes. Defendemos que o aluno chegue e fique, no mínimo, seis meses, ambientando-se e sentindo-se acolhido na nossa universidade. Também defendo revisarmos os currículos de todos os cursos para que possamos fazer um currículo integrador e transversal. Ter uma política de permanência, onde o aluno possa ter restaurante universitário a preço acessível. Não é possível que a gente saia de R$ 2,50 para R$ 6,10. O estudante não se sustenta, porque essas pessoas que estamos trazendo têm vulnerabilidade socioeconômica. Então, é necessária uma política de moradia, de alimentação, de transporte. Eu e professor Paulo estamos negociando, e, mesmo que não sejamos eleitos, advogaremos para que a gente tenha um terminal rodoviário na UnB, que diminua o tempo de idas e vindas e que facilite o trânsito interno, em todas as unidades, em todos os campi. O que mais nos atrai a trazer todos esses alunos é ter um lugar que eles sintam que pertencem a ele. A universidade também tem que fazer o diálogo com o mercado de trabalho. Eu coordeno um projeto chamado Escola Cidadã. Nós vamos para as escolas de ensino médio conversar com os alunos e identificar o perfil deles. A FS Portas Abertas deixa o aluno orientado sobre o curso que ele quer cursar. E não tem só essa iniciativa para que a gente possa frear essa evasão.

Por que a senhora merece ser a próxima reitora da UnB?

A Universidade de Brasília merece ter alternância de poder. Faz bem à democracia, às instituições. Oito anos de governo, e não é uma crítica a ninguém, mas é necessário que a gente se renove. Nesse sentido, nós colocamos à disposição da universidade toda a nossa experiência de gestor, pesquisador, extensionista, de educadores. E há essa interface entre a sociedade e a nossa academia. Estamos prontos, não estamos sozinhos. Não se trata de mim ou de Paulo, mas de um projeto construído coletivamente, não é de hoje, ele está sendo revisto e reeditado. Esse é um desafio que nos anima a fazer e colocar os nossos nomes à disposição nos próximos quatro anos, que é revisitar o projeto de Darcy e Anísio. Chegou o tempo de fazer isso. Vamos caminhar para o centenário.

Estamos no momento de reformulação do Plano Nacional de Educação (PNE). Na educação superior, como a UnB pode contribuir com esse processo?

A gente precisa fazer uma disputa do orçamento dos recursos da União. Não dá para a gente, a cada final de exercício anual, não ter recurso para pagar água e luz. Precisamos de um financiamento estável. Precisamos garantir uma política de permanência dos nossos professores, porque muitos talentos estão indo embora por falta de incentivo às nossas carreiras. De igual maneira os técnicos. A cada 100 técnicos, 70 vão embora por falta de política de assistência, para condições de morar, alimentar-se, ter formação, além de poderem investir em mestrado e doutorado, para que eles sintam que a carreira deles tem futuro. A UnB, diferente das demais, está no epicentro do poder. Isso facilita as relações com o Ministério da Educação (MEC) e também para que a gente consiga cumprir as metas do PNE. A UnB tem expertise. Nesses 62 anos, nós construímos um corpo técnico, uma base científica, uma base extensionista, muito robusta.

A UnB tem ampliado bastante o acesso ao ensino superior. Como a universidade pode ampliar ainda mais esse acesso? É uma meta?

Isso é uma meta porque ainda temos muitas vagas ociosas, em função da própria evasão. Uma vez assumindo a gestão dos próximos quatro anos, nós precisamos fazer o mapeamento curso a curso, unidade a unidade, campi a campi, para saber quais são os problemas que são reiterados do porquê dessa evasão. E, ao mesmo tempo, seguir ampliando o acesso. Se os meninos entram e não ficam, geram-se mais vagas ociosas, e o próprio MEC pode nos ver como improdutivos. Sou defensora da democratização do acesso, mas a universidade tem que se preparar. Não basta convocar, tem que garantir condições de ficar e de voltar. Eu fiz um projeto, quando dirigia a FS, que se chamava “Por onde andam vocês”. A gente trouxe os alunos egressos para que contassem a quem está entrando como foi o percurso no mercado de trabalho. É possível fazer isso no conjunto da UnB.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Leave your Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *