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Ter desempenho de alta qualidade, respeitar a cultura da empresa, inovar e fazer sempre o melhor — se possível, criando tendências — são lições que devem estar na primeira página da cartilha de um bom profissional na avaliação de Chieko Aoki, fundadora e CEO da Blue Tree Hotels.

Ela é a segunda entrevistada da série Palavra de CEO, que integra o projeto Tem Que Ler, de reportagens especiais e conteúdos exclusivos do GLOBO. A série ouve líderes de empresas com diferentes perfis para traçar o que faz de um profissional uma contratação irresistível.

Reconhecida no mercado como uma líder atenta e exigente, a empresária se descreve como workaholic e sempre disposta a dividir conhecimento com suas equipes. Mas frisa não ser “muito compreensiva” com falhas na qualidade profissional.

Nascida no Japão, a Sra. Aoki, como é tratada pelos funcionários da companhia, chegou ao Brasil com os pais aos 6 anos de idade, e mantém uma grande influência da cultura de seu país de origem, tratando a empresa como família. Aos 75 anos, ela comanda desde 1997 a rede que soma hoje 23 hotéis no Brasil.

Aoki, em japonês, significa árvore azul — e por isso a rede de hotéis que fundou foi batizada como Blue Tree. Antes, Chieko foi executiva das redes Caesar Park e Westin Hotels & Resorts. Ela afirma que a longevidade a ensinou que lidar com crises faz parte da vida. Ganhou resiliência também observando a vontade de viver do marido, que sofreu um derrame e passou 17 anos de grandes restrições.

Veja, neste primeiro vídeo, em rápidas respostas, por que Chieko valoriza mais vivência do que currículo (“A vida nos ensina, não o livro”) e as vantagens que aponta para remoto, presencial e híbrido (“Quando se está à distância, a alma não está junto”). E acompanhe as dicas de carreira da executiva.

CONTRATAÇÃO IRRESISTÍVEL: “Ter essa visão de futuro, criar uma tendência, inovar o mercado”

(O perfil para uma contratação irresistível) depende do nível. Numa posição de liderança é muito importante qualidades humanas, que significa também qualidade de se relacionar. Ainda mais um líder, sendo um exemplo, (a pessoa) tem que estar muito alinhada com os valores da empresa. Os nossos valores são alicerçados no bem, de cuidar de pessoas, de fazer o bem para as pessoas. Então esse líder precisa ter essa característica, uma pessoa generosa, que não seja mesquinha. Mas enxergar que tem outras pessoas também. Então pessoas que realmente entendam isso, que ninguém gosta de ser invisível no mundo. Alguém que entenda isso e saiba fazer relacionamento, saiba se conectar com as pessoas, se preocupar com as pessoas porque, na organização, vai ter que fazer isso também com a equipe. Isso daí é o fundamental porque a parte técnica, em muitas áreas, muitas coisas podem ser supridas pela equipe ou por um conjunto de equipes.

A segunda qualidade importante é a capacidade de operacionalizar, garantir o dia a dia com uma gestão efetiva, fazer uma boa gestão. E gestão como a gente aprende nas escolas de Administração, acho que existe uma personalidade independente do negócio. A terceira coisa importante é a capacidade de o líder ter essa visão de futuro, enxergar as tendências. E não só isso, mas de preferência criar uma tendência, criar novas ideias, inovar o mercado, inovar o nosso negócio. Então vai depender muito da capacidade dessa pessoa de se relacionar, de ouvir, de entender as necessidades através das pessoas. A tecnologia nos ajuda a viabilizar de uma forma mais eficiente, enxergar o que não estamos enxergando. Mas, no fim, são as pessoas o mais importante.

PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO: “Vai errar uma ou outra coisa, mas não pode errar muito não, porque a empresa não tem tempo”

Primeiro, quem vai (entrar) em qualquer negócio, tem que saber que é uma profissão, é um trabalho, e não é alguma coisa que você vai fazendo porque você se formou. Essa visão tem de começar lá embaixo. Começa com a vida da pessoa, tem que estudar, tem que ter conhecimento, tem que aprender durante o período escolar. Esse é o período que a pessoa tem para se preparar para o seu futuro. Então eu imagino que a pessoa está preparada profissionalmente, geralmente ela conhece o negócio, mas falta aquele jogo de cintura, o jogo de entender o que é a prioridade, o que é mais importante, menos importante, porque isso é muito na vivência, no dia a dia. Porque o cliente é diferente. É muito importante, quando a pessoa entra, a empresa ter a paciência de ensinar.

A liderança é muito importante, aquela característica de compreender, de entender que também um dia foi iniciante. É preparar o colaborador mesmo, porque na nossa empresa levamos muito em conta os valores, a cultura da empresa, o jeito nosso de ser. Mas a pessoa tem que ir aprendendo, a gente vai botando a pessoa para realmente funcionar, não tem que botar na parede, vai errar uma ou outra (coisa), mas não pode errar muito não, porque a empresa não tem tempo.

Nós temos pessoas para orientar, os padrinhos. A gente precisa ter paciência, mas não demais, porque senão a pessoa se acomoda. A gente também tem nossos procedimentos para ver como ele aprendeu. Então a gente tem obrigação de orientar, mas sempre lembrando que somos profissionais e cada um tem a obrigação de fazer melhor, nos padrões e também, se possível, descobrir uma nova forma melhor que ajude a todo mundo. Não é porque é (funcionário) recente que não vai saber o que fazer. Ele tem, às vezes, um olhar novo, uma visão diferente e pode ajudar muito.

TRABALHO E VIDA PESSOAL: “Cada um tem um jeito. Eu sou ‘workaholic’, para mim trabalhar 24 horas (por dia) é normal”

Eu acho que cada um tem um jeito. Eu tenho um jeito, eu sou workaholic, cheia de energia, adoro trabalhar, para mim não tem hora. Mas tenho irmãos que não gostam, (dizem:) “Agora é minha hora de parar, de curtir a família”. Eu já nem entro (em debate) porque ele não me entende e eu também não entendo ele, porque, para mim, trabalhar 24 horas (por dia) é normal. Se eu não entendo nem o meu irmão, como é que eu posso dizer que eu entendo a minha equipe?

O que eu posso fazer, eu posso não entender, mas eu posso ser compreensiva com as características de cada um, principalmente emocionalmente, mentalmente. O que eu não sou muito compreensiva é com as falhas na qualidade profissional, isso eu não abro mão. Porque se você disse que é profissional e sabe cortar cabelo, aí não saber cortar cabelo é uma diferença muito grande. No dia que a pessoa estiver muito mal, não vai nem cortar cabelo. Mas no dia que está (bem), tem que cortar cabelo bem, senão não é profissional.

COMO LIDAR COM CRISES: “Quem viveu bastante sabe que dificuldade faz parte da vida. A gente acaba ficando resiliente”

Está difícil, confesso. A gente sofre, em primeiro lugar (com a escassez de mão de obra pós-pandemia). Não somos só nós, no mundo inteiro. Estive no Japão, e também lá havia hotéis com um andar inteiro fechado porque não havia pessoas para trabalhar. Porque ninguém mais está procurando o trabalho que você tem que estar todo dia presencialmente. E o nosso trabalho tem que estar presencialmente: limpar, arrumar, receber gente. Não dá para você fazer isso de longe. Muitas pessoas não estão querendo isso. Querem qualidade de vida, que em primeiro lugar é ficar em casa. Então é difícil, mas nós temos que ter muita paciência, selecionar a pessoa certa e que queira ainda trabalhar presencialmente.

Quem viveu bastante sabe que dificuldade faz parte da vida, quem viveu pouco tempo vai falar que esse mundo não devia ter nascido. Como eu já vi que a vida é muito frágil, eu vi um tsunami na minha frente, claro que na TV, mas eu vi a fragilidade de uma vida, seja com catástrofes naturais, do avião que cai, das doenças que chegam. O meu marido teve um derrame e a vida dele mudou radicalmente de uma hora para outra. Ele quase morreu e, depois, passou 17 anos sem poder falar. Mas ele queria viver. Então, tem várias coisas na vida que acontecem e que você tem que refletir: “O que a gente está passando hoje? Você está vivo? Você tem cabeça para pensar e para dar a volta?” Eu, pessoalmente, agradeço a Deus todas as manhãs porque acordei.

Eu sei que a gente pode não acordar. Então, agradeço todas as manhãs por ter acordado, e por toda a minha família estar aqui, minha empresa, meus amigos, funcionários.

A gente acaba ficando resiliente. Os novatos são menos. E você tem que contar isso, eu conto muito. “Olha, teve tsunami, teve situações tão difíceis como um dia você acordar e o presidente tirou todo o seu dinheiro e você ficou só com R$ 50 reais. Imagina como a gente faz? Mas a gente vai superando”. É uma coisa que o brasileiro tem de bom, com tanta inflação, tanta mudança de rota do governo, tantas mudanças que não existem nos outros países. No Japão, você vai lá daqui a 50 anos e é igualzinho. Então, com tantas mudanças, é preciso preparar o pessoal.

O que que a gente fala? Olha, você está tendo uma vivência, uma resiliência muito acima da de outros países, tanto que os CEOs brasileiros são muito bem vistos lá fora pela capacidade de superar, de enfrentar desafios. Cada país tem um jeito, e o Brasil é uma grande ponte para você aprender a superar os desafios. É bom isso? Eu acho que profissionalmente, sim. Não é fácil superar tanto, eu não gostaria de ter tantos desafios, mas quem sabe quando eu for morrer eu fale: “Nossa! Que bom que o Brasil me ensinou tanta coisa na vida”. Mas um pouco mais de sossego também é muito importante sim, com certeza.

TRABALHO E SAÚDE MENTAL: “Todo mundo saiu do armário agora. Antes você era fraco se ficasse falando de um problema, de angústia”

A ONU já disse que isso é um problema. Acho que todo mundo saiu do armário agora. Eu acho que estava de alguma forma dentro das pessoas, mas você era fraco se ficasse falando de um problema, de angústia. Veja como o mundo está ficando mais humanizado. Antigamente, a gente era mão de obra. Depois, era o mundo mais intelectual do trabalho. Depois, as empresas começaram a se preocupar com propósito, ter valores dentro da organização. Então, você já colocou alguma coisa da emoção das pessoas também. Da mão de obra foi para cabeça, a inteligência. Agora está também na emoção das pessoas. Isso é uma relação que, de repente, cresceu muito com o Covid, porque aumentou demais nas pessoas por conta da solidão.

Eu não sou especialista, mas eu sei que as empresas têm que se preocupar, porque o mundo mudou radicalmente. Que (a pessoa) não vai se sentir o cara chato, que é uma realidade. Você tem que se preocupar com o meio ambiente, com as pessoas, com a qualidade de vida. Hoje as empresas têm que se preocupar com as pessoas como um todo, saúde física, emocional e mental, para você ter qualidade no seu trabalho, para que o resultado do seu trabalho seja positivo.

DIVERSIDADE E INCLUSÃO: “Aos homens é dado, neste momento, mais oportunidade de subir na carreira”

Hoje eu estive em um almoço. E não é diferente dos almoços que eu participo, das convenções que eu participo, em que eu vejo mais homens. Não são mais homens e menos mulheres. São mais homens e poucas mulheres. E precisamos mudar isso. Não porque precisa ter mulher, mas porque as mulheres têm se preparado muito para criar empresas melhores, mais rentáveis, assim como os homens. Não estou falando que a mulher e os homens são diferentes. Os dois são preparados igualmente. Aos homens é dado, neste momento, mais oportunidade de subir na carreira.

Isso faz com que os homens também atinjam mais lugares de posições mais altas dentro da organização. Mas, com os movimentos que estamos tendo no mundo todo, em que precisa ter mulheres nos cargos, nos conselhos das empresas, às vezes, a gente vê também presidente do Conselho mulher e a gente bate palma. Porque é aí que fundamentalmente vai mudar. Porque é uma mulher, talvez tenha uma visão diferente que é importante para aquela empresa.

Mas acho que o mundo cada vez mais precisa ter um olhar, não feminino, mas muito mais humano, que é uma característica em que as mulheres são criadas e têm isso, de pensar mais nas pessoas. Eu tenho alguns números, um pouco mais de mulheres, mas nunca trabalhei para que tivesse mais mulheres. Isso porque a empresa é aberta, não tem nenhuma restrição quando vêm candidatas mulheres, as pessoas (as) contratam naturalmente. Isso, eu acho que é o ideal porque elas são avaliadas da mesma forma (que os homens).

Existiu muito um passado onde você precisa ser um herói, ser forte fisicamente, precisa ter aquele espírito aguerrido para ser considerado um cara bom, aquele que domina. Agora eu acho que, aos poucos, com mais mulheres tanto no serviço militar quanto em todas as áreas, acho que vão influenciando para que tenhamos outros caminhos de solução para os conflitos que a gente vê no mundo. Eu acredito que é isso que vai acontecer porque cada vez mais homens e mulheres estão falando da necessidade de ter paz, de ter mais entendimento entre as pessoas e ter mais união, do bem-estar.

COMPETITIVIDADE: “Não é à toa que muitas empresas japonesas duram 500 anos. Eles honram, querem fazer melhor amanhã o que já fizeram a vida toda”

Já trabalhei numa rede internacional, uma das mais tradicionais americanas, já construí hotéis em Cingapura, na Alemanha, em Portugal. Então eu tenho experiência de hotéis em vários lugares. Para mim, não existe diferença entre fazer um hotel no Brasil e fazer fora. Mas tem que criar diferenciação. Eu fui a primeira a colocar um restaurante japonês de luxo no Brasil, não tinha. Japonês só tinha na Liberdade (bairro paulistano), era pequeno. E eu falei: “Não. Comida japonesa vai crescer e é muito bom”. E foi um sucesso. E todo mundo começou a imitar. E eu coloquei isso no mundo inteiro. Se a coisa é boa, se atende tendências de mercado, as pessoas aceitam, gostam.

Então, a gente tem que estar sempre focando, sempre do jeito que você é e ser cada vez melhor na profissão, naquilo que a gente faz. Eu prezo isso muito. Não é à toa que muitas empresas japonesas duram 500 anos, 600 anos, porque a família (proprietária) tem orgulho daquilo que o seu antepassado criou, e quer fazer melhor ainda. Passam tantas situações de ter mais concorrentes e continuam firmes, porque eles honram, querem fazer melhor amanhã o que eles já fizeram a vida toda, mas também conhecer o mercado e se adaptar melhor ao mercado, porque se só fazer o que você fazia 500 anos atrás, você não tem cliente mais, porque os clientes de 500 anos atrás não estão mais vivos. Então tem que se reinventar continuamente. Nós também. Só não faço aquilo que não é certo.

Estou sempre buscando (inspiração). Quando eu vou em eventos, a um jantar, eu sou uma que todo mundo pode ver que estou gravando em vídeo e foto o que as pessoas fazem. Eu gravo para a gente ver quais são os detalhes. E estar sempre continuamente aprendendo.

REDES SOCIAIS: “Eu preciso ter assunto importante para eu colocar, não quero falar de mim. Não quero tomar tempo das pessoas”

Olha eu não sei muito não, porque a gente já tem tantas correspondências. Eu tenho minhas redes sociais aí pequenininhas. Eu coloco aquilo que eu acho que é importante compartilhar com as pessoas como aprendizado. Mas se for para fazer nada, não faço. Só (posto) quando tem alguma coisa interessante. Na nossa equipe, eu escrevo uma vez por mês o que a gente chama de “Meu ponto de vista”.

Eu viajo, eu ando todo dia e percebo as coisas quando eu vou nos nossos hotéis. Eu escrevo meu ponto de vista sobre uma determinada situação que eu notei. E digo “isso daqui pode ser assim, pode ser melhorado, pode ser inovado”, ou eu elogio as pessoas que fizeram uma inovação tão legal para todo mundo compartilhar. O LinkedIn serve para todo mundo, não compromete a empresa, a equipe, mas eu coloco uma coisa interessante, por exemplo, melhorar a qualidade das coisas. Eu preciso ter assunto importante para eu colocar, não quero falar de mim.

Às vezes eu vejo que tem muita gente fala “Ah, eu estou te seguindo”. Mas é que quando eu faço palestra eu coloco. Podem ser vistas no YouTube. Mas não quero tomar tempo das pessoas.

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